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Formar ou Treinar?

A formação & treino profissional deve acontecer porque é obrigatório por lei – para pôr “um tick na box” – ou por ser imprescindível para assegurar os apropriados índices de produtividade? Mais…
Em contexto laboral, é melhor consolidar o Saber, ou ir além disso e consolidar o Saber Fazer?

Em que realidade é permitido ou, no mínimo, aceitável que uma pessoa conduza uma viatura automóvel sem estar apropriadamente preparada e, devidamente licenciada?

O que obriga a Saber o código da estrada e Saber Fazer a condução da respetiva viatura. Ao ponto de ter de fazer exames para assegurar que tem o correto nível dessas competências. As semelhanças entre a condução de uma viatura automóvel e o desempenho profissional num cargo – qualquer que seja – são por demais evidentes. E notoriamente significativas dada a agravante de, hoje, se esperar dos desempenhos profissionais cada vez mais e melhores resultados. Certo?

Em todas as áreas das empresas os recursos humanos são já ou tendem a ser escassos e, por isso, é imperioso otimizá-los mormente no tocante à sua imprescindível preparação para assegurarem desempenhos que proporcionem mais valor acrescentado em cada unidade de tempo laboral.

E daí, os ganhos críticos nos tempos para o mercado, nos tempos de entrega, nos tempos de resolução de questões ou insatisfações, nos tempos de faturação e cobrança, nos tempos de resposta às transformações. Com os importantíssimos impactos nos índices da qualidade e da competitividade para a almejada consistência posicional no respetivo mercado.

Está, hoje, inequivocamente clarificado embora ainda pouco reconhecido, o insofismável e insubstituível peso dos recursos humanos no EBITDA das organizações – por mais automatizadas que sejam ou queiram vir a ser.

Nada se faz sem o envolvimento das pessoas! E faz-se tanto melhor, quanto mais competências específicas estiverem dominadas pelas pessoas, nos respetivos cargos!

Mas, como ninguém nasce ensinado, todas as pessoas precisam de ser apropriada e eficazmente preparadas para assumirem integralmente a responsabilidade de desempenharem o respetivo cargo, com altos índices de produtividade. 
O desempenho adequadamente produtivo de qualquer cargo está dependente da conjugação harmoniosa de três variáveis osmoticamente dependentes: a variável do querer, a variável do saber e a variável do saber fazer.

Estão tão interligadas e interdependentes que é controverso escolher a variável do querer como a mais importante. Mas eu arrisco, pois embora esta seja largamente condicionada pelo peso conjugado das outras duas, também as condiciona de antemão.

Para consolidar o saber e o saber fazer, de facto é preciso ter a vontade de evoluir e a convicção de que se é capaz, ou seja, o querer. E, este querer também é influenciado pelos níveis do saber e do saber fazer.     

Ora, é a consciência desta realidade que suscita as minhas questões iniciais. As quais, desde logo, não podem ser respondidas com radicalismos, mas antes com a ponderação das potencialidades e insuficiências de ambas as opções formuladas.

A usualmente designada por “formação profissional”, hoje tão generalizada, surge em resposta à necessidade última de as organizações obterem melhorias de resultados sobretudo quando comparadas com a concorrência no respetivo sector e à constatação de que lhes era imperioso maximizar os investimentos e esforços aplicados na eficácia e eficiência internas.

Assim, é natural que os primeiros esforços de formação tenham sido de cariz eminentemente técnico/tecnológico para os operacionais da produção aprenderem a trabalhar como novos dispositivos e equipamentos produtivos.
Importava e ainda hoje importa saberem como fazer para obter o máximo rendimento da máquina. Em suma, qual é o propósito mais produtivo?

Contribuir para os profissionais saberem mais? Ou, para saberem fazer mais e melhor?

Formar – na etimologia é dar forma e, no dicionário é, adestrar, amestrar, educar, doutrinar, ensinar, explicar, instruir, leccionar, pontificar – está por inerência, tradição e essência carregada de paralelismos com a atividade académica. O que é bom e importante para proporcionar esteios no tocante à ampliação das bases do saber que tem de sustentar qualquer cargo profissional.

Portanto, Formar tem como objetivo transferir conhecimento e, com isso, ajuda a melhorar as respostas à questão: O Que Fazer?
Treinar, centra-se na aplicação do conhecimento das boas práticas e na perseguição dos processos, procedimentos e movimentos corretos, dando respostas à questão: Como Fazer?

Treinar consiste em transferir conhecimentos e consolidar as respetivas boas práticas Foca-se na melhoria do saber fazer e é, sem dúvida, mais capaz de levar a melhores resultados.

Por exemplo, perante o caso de uma pessoa que se sente fascinada por BMX (bicycle-motocross, como sabemos) e quer entrar nesse desporto é, sem dúvida, muito importante fornecer-lhe os conhecimentos básicos através de livros ou vídeos com teoria e prática. Porém, a evolução dessa pessoa no BMX só poderá vir a acontecer a partir do momento em que comece a treinar esses ensinamentos nas suas práticas, tanto ao nível da preparação física, como das bases de funcionamento do dispositivo (travões, pedais, guiador, selim, rodas).    

Isto expõe, ainda, um imperativo da profissão de formador/treinador que acresce ao do respetivo Saber – enquanto domínio de conhecimentos da matéria em causa – e é de crítica mais-valia para os resultados do seu trabalho: Saber Fazer!

Saber como estimular, impulsionar, entusiasmar os respetivos aprendentes - participantes a integrarem as melhores práticas por si comunicadas e recomendadas nas ações de formação & treino que orienta.

À guisa de conclusão, por agora, ocorrem-me duas interrogações:

  1. Como estão as organizações a interpretar e corresponder ao incontornável imperativo de preparem os seus colaboradores para “conduzirem” os respetivos cargos ao bom porto dos bons resultados?
  2. Como estamos nós, profissionais de formação, capacitados para conquistar entusiasmo, adesão e compromisso nos nossos aprendentes?

Aguardo, expectante, comentários / críticas / respostas.

Carlos Vasconcelos